A Arquidiocese de Caracas anunciou nesta quarta-feira a suspensão repentina da missa que seria celebrada no próximo fim de semana em comemoração à recente canonização dos santos José Gregorio Hernández e Carmen Rendiles, os primeiros católicos venezuelanos elevados aos altares.
Embora a Arquidiocese tenha alegado superlotação como motivo oficial, a agência católica ACI Prensa observou que o cancelamento ocorre em meio a tensões crescentes entre a Igreja Católica venezuelana e o regime socialista de Nicolás Maduro.
No domingo, o Papa Leão XIV canonizou sete novos santos na Praça de São Pedro, no Vaticano, entre eles os venezuelanos José Gregorio Hernández e María Carmen Rendiles. A delegação oficial enviada por Maduro à cerimônia provocou confrontos com fiéis venezuelanos que rejeitaram a presença dos representantes do regime.
Em um dos episódios de tensão, um repórter do portal católico The Pillar foi agredido por um membro da delegação, identificado como o empresário Ricardo Cisneros, após questionar o arcebispo Edgar Robinson Peña Parra, da Secretaria de Estado do Vaticano, sobre a politização da canonização pelo regime. O Vaticano condenou o ato de agressão.
Nas redes sociais, propagandistas ligados ao governo tentaram difundir a narrativa falsa de que a canonização de Hernández só teria ocorrido graças aos esforços de Nicolás Maduro. Na realidade, o processo teve início em 1949, meio século antes da ascensão do chavismo.
Para celebrar a canonização, a Arquidiocese planejava realizar uma “Festa da Santidade” no Estádio Monumental de Caracas no sábado, 25 de outubro. Contudo, três dias antes do evento, a Igreja anunciou o cancelamento, alegando que havia 80 mil inscritos para um espaço com capacidade para 48 mil pessoas.
Segundo o portal El Estímulo, o regime de Maduro havia solicitado 12 mil assentos na área central do estádio, originalmente reservada a convidados especiais da Igreja. Diante da tentativa de politização do evento, a Arquidiocese teria optado por suspender a celebração.
Em comunicado, a Arquidiocese explicou:
“Após uma análise técnica e pastoral rigorosa, concluímos que não é viável realizar a celebração no Estádio Monumental devido às condições de segurança e capacidade.”
A Igreja pediu que as paróquias locais celebrem missas comunitárias em homenagem aos novos santos. Os 500 estolões, 60 mil hóstias e demais materiais litúrgicos preparados para o evento foram redistribuídos entre as igrejas de Caracas.
A canonização de José Gregorio Hernández, concluída após mais de 70 anos de processo, tornou-se mais um ponto de atrito entre a Igreja e o regime socialista.
Na segunda-feira, Maduro acusou o cardeal Baltazar Porras de conspirar “com sua irmandade” para impedir a canonização. Dias depois, Diosdado Cabello, ministro do Interior e apontado como narcotraficante por investigações internacionais, acusou o cardeal de “politizar o processo”.
Na realidade, o cardeal Porras havia denunciado, em evento na Universidade Lateranense de Roma, a situação “moralmente inaceitável” da Venezuela e a perseguição de dissidentes pelo regime de Maduro.
Há mais de duas décadas, a ditadura venezuelana ataca o arcebispo Porras, a quem Hugo Chávez chegou a chamar de “homem que carrega o diabo sob a batina”.
Dias antes da canonização, a Conferência Episcopal da Venezuela publicou uma carta pedindo a libertação de quase 900 presos políticos no país — solicitação ignorada pelo regime.
Na missa de ação de graças celebrada na segunda-feira na Basílica de São Pedro, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, exortou a libertação dos presos políticos venezuelanos:
“Só então, querida Venezuela, passarás da morte à vida. Só então tua luz brilhará nas trevas, se ouvires o chamado do Senhor para libertar os oprimidos e abrir as prisões injustas.”
Crédito Breitbart