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O general Carlos José Russo Assumpção Penteado, ex-secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que o general Gonçalves Dias, ex-ministro do GSI, não repassou os avisos sobre o risco iminente de invasões no Palácio do Planalto. Penteado depõe nesta segunda-feira, 4, na CPI do 8 de Janeiro da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
“Não recebi nenhuma informação [sobre o risco de invasões], portanto não poderia passar nenhuma informação ao G. Dias”, explicou Peneteado. “Às 8h da manhã, o então diretor da Abin, Saulo de Moura Cunha, avisou o G. Dias sobre a manifestação e o grau de violência que havia. Às 8h36, o ex-ministro já tinha chegado à conclusão. Das 8h36 até a invasão do Planalto, teríamos tempo de fazer muita coisa. Teríamos tempo de fazer o plano de chamada dos gabinetes e colocar os militares, teríamos tempo de levar as tropas para o Plano Escudo, teríamos tempo de reagir. Não recebemos a informação.”
À CPMI do 8 de Janeiro, G. Dias disse que recebeu informações “desencontradas” por parte de Penteado, de Saulo e da coronel Cíntia, da Polícia Militar do Distrito Federal. Penteado teria tranquilizado o então ministro sobre o risco de invasões, durante uma ligação na tarde de 8 de janeiro.
Já Saulo, desde 5 de janeiro, encaminhou para o telefone pessoal de Gonçalves Dias mais de 20 avisos que alertavam sobre o risco de manifestações violentas e de invasão de patrimônio público.
Na manhã do dia 8, inclusive, G. Dias foi comunicado sobre a chegada de quase cem ônibus a Brasília e respondeu da seguinte forma: “Vamos ter problemas”. À CPMI, o ex-ministro explicou que não considerou como uma “plataforma correta” o meio pelo qual foi notificado do risco de invasões.
Contudo, essa era a única ponte entre a Abin e o GSI naquele momento. O órgão de inteligência tinha grupos em que comunicava sobre os riscos de invasões. Entre os membros, estavam órgãos de segurança do Distrito Federal e do governo federal. O GSI estava em um dos grupos por intermédio de um agente que estava de férias.
“Se eu ou o Carlos Feitosa tivéssemos recebido os alertas, posso afirmar que teríamos acionado os meios necessários para evitar a invasão ao Planalto”, continuou Penteado.
À CPI do DF, o ex-secretário-executivo do GSI disse que houve falhas no fluxo de informações recebidas, pois não recebeu nenhum alerta da Abin. “Tínhamos a informação de que a manifestação seria pacífica”, explicou.
Esse seria o motivo pelo qual Penteado disse a G. Dias, em 8 de janeiro, que os arredores do Planalto estavam “normais e tranquilos”. Gonçalves Dias, contudo, não teria repassado nenhum dos avisos da Abin ao seu “número 2”.
O general Penteado é apontado como aliado do general Augusto Heleno, ministro do GSI na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Penteado assumiu a secretaria-executiva do GSI em 2021 — ainda na gestão Bolsonaro — e foi mantido por G. Dias até 8 de janeiro, quando foi exonerado depois dos ataques.
Ex-GSI comenta falhas no Plano Escudo
Segundo G. Dias, Penteado era o responsável pelo Plano Escudo em 8 de janeiro. Documentos enviados à CPMI, contudo, informam que houve falha na execução do plano. G. Dias explicou que, ao chegar ao Planalto na tarde de 8 de janeiro, a estratégia não estava montada.
“Perguntei ao Penteado com um palavrão por que o bloqueio do Plano Escudo não estava montado”, disse G. Dias à CPMI na quinta-feira 31. Segundo o ex-ministro, o general Penteado não explicou a falha na segurança e foi imediatamente montar o bloqueio.
O Plano Escudo é a estratégia de segurança que protege as instalações do Planalto. Essa segurança é feita em quatro linhas de contenção, sendo a primeira e a segunda combinadas com a Polícia Militar (PM); a terceira com os agentes de segurança patrimonial e a última com a tropa de choque.
De acordo com Penteado, o Plano Escudo funcionou nos dias 6, 7 e na manhã de 8 de janeiro. “Essa estratégia é ativada quando há informações de manifestações”, contou. A estratégia estaria formada com um efetivo que correspondia ao grau de informação recebida — de manifestações pacíficas.
Segundo ele, a partir da invasão do Planalto, não existia mais Plano Escudo, pois ele serviria apenas para impedir a entrada dos vândalos, não para a retomada do prédio. Nesse momento, os militares teriam modificado a estratégia para esvaziar o local. “Havia 133 militares no Planalto”, declarou. “Os manifestantes romperam a barreira pelo estacionamento e pela parte Sul do Palácio.”
Penteado ainda negou que houve qualquer facilitação por parte dos militares aos depredadores. “Eles foram atacados pelos manifestantes”, explicou. “Eu fui agredido.”
Procurada por Oeste, a defesa de G. Dias não retornou até a publicação desta reportagem.
Revista Oeste